sábado, 10 de abril de 2010

A dor que dói mais. Por: Martha Medeiros.


Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A minha dor de amanhã.


Hoje não estou muito bem, são aqueles dias de chuva, que você fica sozinha em casa, pronta para que as lembranças te ataquem, a cobrança de ser uma pessoa melhor te consome, e os arrependimentos te invadem. Meu coração está apertado, meus olhos escorrem um tipo de líquido, acho que eles estão vazando, eu me preocupo, sei que a tristeza vai tomar conta do resto do meu corpo, além do coração, que já está tomado. Eu mudei, e não me agrado com tal mudança, estou pior, e isso me dói muito, tenho notado as pessoas diferentes, mais próximas e tão distantes, eu cansei de ser quem não sou, eu cansei de mim, preciso sair de tudo isso. Pensei em algo como suporte, aceitei que nunca acharei nada como penso. Eu não quero nada como Bruno, Alex, Roberto, Matheus, Phillipe, não que eu seja melhor que eles, ou eles, melhor que eu, mas eles não me servem, e eu não sirvo pra eles, somos como peças de quebra-cabeça que não se encaixam, como a mistura de duas frutas amargas, não somos, eu sou, eles são. O aperto no meu coração aumenta, não ligo em citar nomes, só quero tirar tudo isso, mostrar para eu mesma que não sou nada além do que penso. Aquela sensação de fugir de tudo, me vem, e acabo com ela com o pensamento de que tudo tem o seu tempo para vir, e ele virá, me vejo de outro modo, mas não o posso ser, pelo menos agora não, forço a minha mente a pensar que mais tarde serei, mas o mais tarde é tarde demais, e o amanhã não existe, e minhas vontades e pensamentos são falsos, assim como o jeito que tenho tido, e noto que o fingimento é a dor da razão.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Eu homem.


Não sei se eu me apaixonaria por mim mesma, penso e acho que não. Não iria suportar a minha voz enjoada, o meu jeito meloso, as minhas manias, minhas desconfianças, meu jeito meio frio, minha forma de amar, meus pensamentos profundos demais, a forma como encaro as coisas, sinceramente eu me irritaria comigo mesma o tempo inteiro. Na primeira briga acho que terminaria comigo, ambos seriam orgulhosos, e poderiam morrer de vontade de voltar, mas não voltaríamos, não suportaria as minhas birras de quando alguém ligasse pra mim e saísse pra conversar longe de onde estou, odiaria ligações o tempo todo, se bem que acho que nunca nós ligaríamos, somos orgulhosas demais para mostrar um ao outro que demos o braço a torcer para a saudade, não gostaria de forma alguma quando eu saísse, com certeza eu morreria de ciúmes, mas nunca falaria isso pra eu mesma, afinal nenhuma de nós mostraria sentimentos,teria raiva da forma fria que eu tivesse, afinal, não demonstrar sentimentos é meu forte, minha forma de amar me irritaria, encaro isso de uma forma muito profunda, um jeito meio sério demais, e isso com certeza eu não aceitaria em mim, meu papo sério quando se trata de sentimentos me tiraria do sério. Meu relacionamento comigo, com certeza só me traria problemas, por isso ainda espero o oposto da minha igualdade de sempre.